Em tempos tão turbulentos como os que estamos imersos, em nossa história recente, atravessados por questões cruciais à nossa sobrevivência material e espiritual, em todas as instâncias, o pré-texto "ato de caminhar como prática poética" se reveste de muitas camadas de sentido - sejam de ordem física; sejam pela necessidade de retomar as medidas do corpo e as extensões perceptivas espaço-temporais; sejam de ordem simbólica e existencial. Emerge a necessidade, estrutural e estruturante, de atualizar conceitos e chaves filosóficas, antropológicas, estéticas, como modalidades de interpretação e invenção de mundos.
A ressignificação de nossas experiências e repertório constitutivo, relativos aos trânsitos e fluxos na qual vivemos em todos os momentos - dos percursos cotidianos aos nomadismos sócio-culturais e, portanto, históricos -, nos solicita redesenhar as representações das noções de território e de mapeamento destas - seja a partir das observações, das memórias (cujo arco se estende do singular/ afetivo ao plural/cultural-histórico) e dos imaginários, ou seja, a projeção de futuros possíveis.
A experiência extraída do ato de caminhar, em si, visa a constituição de narrativas e dramaturgias que ancorem a instauração de novas e outras poéticas, nascidas sob o signo das linguagens expressivas, criativas e criadoras da Arte, esbarram em questões emergentes de nossas vidas:
a mobilidade social, física, territorial; as migrações; o desafio das outridades - cujos modelos estão exauridos por um lado e, por outro, a constatação do vão entre imagens e palavras capazes de instigar a suspeita "representação" de nossa subjetividade contemporânea; a eterna conquista do mito do desconhecido.
A plataforma BAGAGEM : caminhada como prática poética, passo a passo, ponto a ponto, traço a traço, vai desenhando linhas em estado de risco, conectando cartografias afetivas, abrindo trilhas metafóricas, instaurando veredas "nem sempre reais, porém sempre verdadeiras", como já dizia Antonin Artaud, em direção à conjugação de experiências, gerando argamassas móveis, fluxos singulares e plurais.
A indagação desta proposição, que fica aqui batendo seu pulso, tende revolver o arco extenso entre "a poética da experiência e a experiência da poética". Como extrair e projetar, do ato de caminhar em si, informações-pilares que sejam ingredientes para esta cozinha alquímica dos sentidos, caminhada incessante da linguagem poética - o novo passaporte de um caminho por ser, ainda, desvendado.
aqui preparando uma programação para 2016
Encontros Imersivos BAGAGEM:caminhada como prática poética, fora da cidade de SP:
- no Matutu_Aiuruóca perto de São Lourenço_Minas Gerais (Carnaval_Fevereiro) www.pousadamatutu.com.br;
- na Fazenda Serrinha_Bragança Paulista (Páscoa_Março e Tiradentes_Abril)
www.fazendaserrinha.com.br ;
- quem sabe expedição para o Parque do Zizo_São Miguel Arcanjo, em direção à Sorocaba
ou Monte Roraima (grupo mínimo 10 pessoas)
Curso Extensivo BASE com 6 encontros no Centro de Pesquisa e Formação _SESC , em fevereiro e março, coordenação Edith Derdyk. Teremos 4 convidados: Natalia Barros_Poesia; Laerte Sodré_Astronomia; Rita Mendonça_Biologia/Ecologia; Marcelo Semiatzh_Fisioterapia/Estudos do Corpo além de 2 encontros ministrados pela artista edith Derdyk, abordando e contextualizando o ato de caminhar com a História da Arte.
Linhas de Horizonte - entre o corpo , o olhar e o espaço, 8 aulas em SP, realizando incursões urbanas, curso sediado na Casa Contemporânea, em andamento
www.casacontemporanea370.com
.
As parcerias se consolidam com a Fazenda Serrinha, onde já realizamos 2 edições em 2015, SESC e Casa Contemporânea.
Edith Derdyk
novembro _ 2015
sexta-feira, 23 de outubro de 2015
"Não encontrar o caminho numa cidade´pode perfeitamente ser desinteressante e banal. Exige ignorância - só isso. Mas se perder numa cidade - do modo como nos perdemos numa floresta - exige um ensino muito diferente. Nesse caso, placas de lojas e nomes de ruas, transeuntes, tetos, quiosques ou bares devem falar ao caminhante como um raminho que se quebra sob os seus pés na floresta, como o pio assustador de um alcaravão à distância, como a súbita quietude de uma clareira com um lírio erguendo-se bem ereto no seu entro. Paris me ensinou essa arte de vagar."
Walter Benjamin , "A Berlin Chronicle" in: Reflections: essays, aphorisms, autobiographical writtings_NY_Schoken_1986_pg 9
"
BAGAGEM é uma
plataforma que visa agrupar distintas
experiências que investiguem o enunciado
“caminhar
como prática estética” proposto inicialmente no livro Walkscapes de
Francesco Careri e, aqui, derivando para um território aberto e errante em busca de mapeamentos – seja através da compilação de referências
bibliográficas, seja através da apresentação de material iconográfico extenso - e que envolve o ato de caminhar como ação presente e fundamental para o
percurso da civilização humana.
Através de imersões – fora ou dentro do ambiente
urbano -, proposições práticas, encontros teóricos, grupos de estudo, “relatos
de viajantes”, BAGAGEM irá
reunir, ao longo do tempo, estas informações e, simultaneamente, visibilizar os
próximos passos.
Todas as ações e proposições de BAGAGEM –
viagens imersivas, encontros teóricos e práticos, grupos de estudo - visam sedimentar por um lado e desestabilizar
por outro, as bases conceituais que movimentam este projeto, seja através da apresentação de
experiências poéticas e artísticas que acontecem ao longo da História da Arte,
contando também com a presença de artistas
que tem como matéria prima de sua “ópera” o ato de caminhar; bem como propor cruzamentos
interdisciplinares (ou indisciplinares) conectando Arte, Ciência e Técnica - ,
através da presença de profissionais ligados às outras áreas de
conhecimento – astronomia, matemática, física, biologia, bem como poetas,
filósofos, antropólogos e tantos outros
ramos, troncos e raízes do
conhecimento.

A
paisagem cultural – seja urbana ou rural - em constante transformação física,
se por um lado ainda abriga algumas
referencias que apontam para uma memória coletiva, por outro lado aponta
para distintas percepções espaçotemporais, cujas configurações físicas e
ideológicas estruturam novas e sempre
outras relações afetivas, sociais.
BAGAGEM propõe, através de suas ações, a exploração da “poética da experiência” com
possibilidade migratória para a
construção da “experiência da
poética. Fica aqui a pergunta: como
transformar a rede de informações e experiências em linguagem poética,
propositora e ativadora de
sensibilidades?
“Para ir à procura da ilha desconhecida, respondeu o homem, Que ilha desconhecida, perguntou o rei disfarçando o riso, como se tivesse na sua frente um louco varrido, dos que têm mania das navegações, a quem não seria bom contrariar logo de entrada, A ilha desconhecida, repetiu o homem, Disparate, já não há ilhas desconhecidas, Estão todas nos mapas, Nos mapas só estão as ilhas conhecidas, E que ilha desconhecida é essa de que queres ir à procura, Se eu te pudesse dizer, então não seria desconhecida”.
José Saramago in: O conto da ilha
desconhecida.
Parabéns Edith pelo trabalho. Conte comigo. Gostei muito das fotos! bjs
ResponderExcluirOi Edith, que beleza esse teu projeto. Parabéns! O conteúdo me interessa muitíssimo, pois além de ser uma admiradora de toda tua obra (desde 20003), na Arte e na educação, o meu grupo de pesquisa também está desenvolvendo um trabalho nessa linha, desde o ano passado, na orla de Guaíba (RS). Quero poder apreciar mais desse teu trabalho.Desejo todo o sucesso possível. Um abraço.
ResponderExcluirOi Edith, parabéns! Que trabalho lindo. Desde 2003 sou admiradora de toda tua obra, plástica e na educação. Tenho livros teus nos dois campos de atuação. Me interesso muitíssimo por esse tipo de pesquisa, pois faço parte de um grupo que está fazendo um trabalho nessa linha, desde setembro do ano passado, na orla de Guaíba-RS. Desejo todo o sucesso nesse trabalho . Um abraço. Estelita Branco.
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ResponderExcluirEstelita, grata! veja no blog as postagens sobre o que vai acontecer..........................! quero saber mais sobre a pesquisa de vocês! abs
ResponderExcluirEdith, você está impossivelmente "deliciosa". Que proposta generosa, um imã! Let´s woal, vamos caminhar, bórai! Grande beijo!
ResponderExcluirLilian querida, logo mais você será um alvo - convidada para alguma conversa numa destas imersões, topa? beijinhos
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